domingo, 31 de janeiro de 2010

Mal secreto



Desejo de Waly Salomão realizado por Luiz Melodia.
Música de Waly Salomão e Jards Macalé.
Direção de Karla Sabah e fotografia de Jacques Cheuiche.
Com Perinho Santana, Renato Piau, Luiz Melodia e Waly Salomão.


Linda letra de Waly Salomão:

Não choro,
Meu segredo é que sou rapaz esforçado,
Fico parado, calado, quieto,
Não corro, não choro, não converso,
Massacro meu medo,
Mascaro minha dor,
Já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente,
Se você me pergunta
Como vai?
Respondo sempre igual,
Tudo legal,
Mas quando você vai embora,
Movo meu rosto no espelho,
Minha alma chora.
Vejo o Rio de Janeiro
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho,
Não fico calado, não fico parado, não fico quieto,
Corro, choro, converso,
E tudo mais jogo num verso
Intitulado
Mal secreto.













Viva Waly Salomão!

(Foto de Selmy Yassuda.)


Valeu a dica, Cleber!!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Notas para o diário




















deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.

a dor de todas as ruas vazias.

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.

a dor de todas as ruas vazias.

mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.

a dor de todas as ruas vazias.

pois bem, mário – o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.

é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.

a dor de todas as ruas vazias.

sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.

a dor de todas as ruas vazias.

os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida – e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.

a dor de todas as ruas vazias.


Do poeta português Al Berto, em seu livro Horto de incêndio.

 
Li no As folhas ardem, que traz ainda o comentário de Al Berto:
 
“A eternidade não é lerem-me dentro de 50 ou 60 anos ou ficar na história da literatura portuguesa. Só espero que meia dúzia de doidos me leiam agora e isso os toque”.















Mais autonomia às tuas esperanças. Impossível marcar lugar e hora para as surpresas. Nunca dá certo. Receberás aquilo com que já não contas na festa que não esperas.

Aníbal Machado, em Cadernos de João

Li no (o grifo é meu).

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os pecados do Haiti, por Eduardo Galeano
















A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca idéia de querer um país menos injusto.

O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estadunidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito com um voto sequer.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:

– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.


O álibi demográfico

Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:

– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.

Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.

Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.


A tradição racista

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".

O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das Leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".

Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".


A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos tinham conquistado antes a sua independência, mas meio milhão de escravos trabalhavam nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação.


O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolívar, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar conseguiu reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete naves e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pênis. A essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, a modo de perda por haver cometido o delito da dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.

Eduardo Galeano


Com o quadro Vol de zombies de Hector Hyppolite (1894 - 1948), do acervo do Museu Nacional de Arte do Haiti.

(Valeu, Edu Rangel: o texto é realmente ótimo!)

domingo, 24 de janeiro de 2010

It's all right with me



Viva Cole Porter!
Viva Ella Fitzgerald!
Viva Nat King Cole!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Só por hoje














Reproduzo aqui o texto Só por hoje, que li no As folhas ardem, do português Manuel Margarido. Antes, porém, vale ler o comentário que ele faz:

"Só deus nosso senhor, a Louise L. Hay, a Isabelle Fillozat, a senhora que escreveu o Comer, orar, amar, o Paulo Coelho ou a Margarida Rebelo Pinto sabem a estima que tenho pelos livros e pelos textos de “auto-ajuda”. São excelentes alternativas de entretenimento; não aquecem nem arrefecem, podendo embora fazer estragos no espírito dos crédulos. Mas não deixam de ser fantásticos meios de auto-ajuda para quem os escreveu.

E, contudo, veio parar-me às mãos uma pequena cartolina impressa em formato A6. Um texto breve, lapidado pelo tempo e pela experiência dos Alcoólicos Anónimos (A.A.), desde há décadas uma discreta comunidade de resgate de vidas, de mudança de paradigma e de comportamentos, um lugar de liberdade para aprender a lidar com uma doença de sentimentos e emoções. Através da partilha. O texto chama-se Só por hoje. Na simplicidade dura, na suavidade firme das palavras, poderia servir para reflexão de toda a gente. Toda a gente mesmo. Não como doutrina, credo, oração. Mas como uma perspectiva das possibilidades do humano, na sua ínfima, gigantesca condição."


Só por hoje

Só por hoje, vou procurar viver unicamente o dia presente, sem tentar resolver de uma vez só todos os problemas da minha vida. Durante doze horas posso fazer qualquer coisa que me assustaria se eu pensasse que tinha de a fazer por uma vida inteira.
Só por hoje vou estar feliz. A maior parte das pessoas é tão feliz quanto se dispõe a sê-lo.
Só por hoje vou tentar ajustar-me à realidade e não tentar adaptar tudo aos meus desejos. Vou aceitar a minha «sorte» como ela vier e vou moldar-me a ela.
Só por hoje, vou tentar fortalecer o meu espírito. Estudarei e vou aprender alguma coisa útil. Não vou manter o meu espírito ocioso. Vou ler alguma coisa que exija esforço, pensamento e concentração.
Só por hoje, vou exercitar a minha alma de três maneiras: vou fazer um favor a alguém sem que se note e, se alguém se aperceber disso, esse facto não conta. Vou fazer pelo menos duas coisas que não me apetece – só por exercício. Não vou mostrar a ninguém os meus sentimentos de dor. Poderei estar magoado mas não revelarei a minha dor.
Só por hoje, vou ser agradável. Vou apresentar-me aos outros da melhor maneira possível: vou vestir-me bem, falar baixo, agir delicadamente, não farei críticas, não vou ter nada de negativo que dizer aos outros, não vou tentar melhorar nem controlar ninguém, excepto a mim próprio.
Só por hoje vou ter um programa. Pode ser que eu o não siga a rigor, mas vou tentar. Vou evitar duas pragas: a pressa e a indecisão.
Só por hoje, vou ter meia hora tranquila só para mim, e descansar. Durante esta meia hora, num determinado momento, vou procurar ter uma melhor perspectiva da minha vida.
Só por hoje, não vou ter medo. Muito em especial não vou ter medo de apreciar a beleza e de acreditar que aquilo que eu der ao mundo, o mundo me devolverá.



(Com a ilustração de Danuta Wojciechowska para O menino eterno, de José Jorge Letria.)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Abobrinhas não!




















Cansei de ouvir abobrinhas
vou consultar escarolas
prefiro escutar salsinhas
pedir consolo às papoulas
e às carambolas
pedir um help ao repolho
indagar umas espigas
aprender com pés de alho
sobre bugalhos
ouvir dicas das urtigas
e dessas tulipas
um toque pro miosótis
um palpite pro alpiste
uma luz da flor de lótus
pedir alento ao cipreste
e pra dama da noite
pedir conselho à serralha
sugestão pro almeirão
idéias para azaléias
opinião para o limão, pimentão
abobrinhas não


Itamar Assumpção

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre o Haiti




















Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!

Castro Alves,  em O navio negreiro


Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu te escondes

Castro Alves, em Vozes d’África



Com foto de Eduardo Munoz (Reuters).


E para entender melhor o que se passa no Haiti, veja o excelente site feito por jornalistas brasileiros: http://haiti.org.br/.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Mafalda sabe tudo!


Da série "Poças", de Pedro Farina



























E também da minha série "Ex-alunos que me enchem de orgulho!".  :-)
Para conhecer mais do trabalho de Pedro Farina, clique aqui.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A porta de Duchamp



Quando vivia em Paris, no pequeno apartamento da rue Larrey, n.º II, Duchamp fez instalar dentro de casa uma porta que não podia estar nem aberta nem fechada porque estava sempre aberta e fechada ao mesmo tempo. Uma porta que ele abria quando a fechava (fechada mesmo aberta, como alguém disse acontecer com os livros) e que descolava da sua função de porta, como a palavra porta descola de qualquer porta se a dissermos duas vezes: uma porta-porta. A dele rodando entre dois umbrais e, por isso, incapaz de preencher um vazio sem abrir outro vazio. Duchamp tinha-a colocado ali para não esquecer que há em tudo uma parte de nada, um vão impossível de preencher sem que logo se abra outro mesmo ao lado. Mas desde então dormia mal, por causa dos gritos dessa porta, ao mesmo tempo concreta e abstrata, deslocada e infeliz como uma alegoria sem propósito. E quando não conseguia dormir, e se levantava às escuras para ir beber um copo de água, acontecia-lhe hesitar diante da sua invenção: «aberta, fechada?». Nessas alturas, se via que Duchamp ia enganar-se outra vez, a porta-porta mudava de posição e empurrava-o docemente para o lado do vazio. Além de gritar e ser didática, que mais pode uma porta para se fazer entender? Duchamp desaparecia então no fundo escuro da cozinha, e sempre dava consigo a pensar sem saber muito bem porquê que, talvez por estarem tão cheios de nada, os gritos da sua porta-porta lhe faziam afinal fraternamente companhia. Depois, no regresso ao quarto, hesitava novamente – «aberta, fechada?» – mas, com os braços um pouco adiante do rosto, atravessava agora o vazio a passos mais decididos.


Rosa Maria Martelo, em A porta de Duchamp.


Com The Bride Stripped Bare by her Bachelors, Even, de Marcel Duchamp.

A tragédia histórica

















"O território ocidental da Ilha de São Domingos, que passou ao domínio francês em 1697, por cessão da Espanha, se transformou em imenso canavial, com a importação de escravos. Durante o século 18, o Haiti (que significa, na língua nativa, terra montanhosa) viu extinta a sua população indígena. Em 1781, dos 556 mil habitantes, 500 mil eram negros, e o resto se formava de mulatos e brancos europeus. A terra, ocupada pela cana e culturas menos importantes, foi arrasada pela exploração colonial, predatória. Finalmente, em 1804, os haitianos obtiveram sua independência, embora só de fachada. Foi o segundo país da América a se tornar formalmente autônomo: o primeiro foram os Estados Unidos. (...)

Não há (provavelmente nem mesmo em algum lugar da África negra) população tão sofredora quanto a do Haiti, nem elite tão brutal. A desigualdade entre ricos e pobres não encontra paralelo no mundo. O país é o de menor PIB do Ocidente e de maior incidência de Aids; exibe a mais alta taxa de mortalidade infantil conhecida, e mais de 80% de sua população vivem na indigência quase absoluta. É um povo que tem todo o direito de exigir reparação histórica do mundo ocidental o que, nestas horas, enfrenta os danos do grande terremoto – o maior que atinge o país, desde o ocorrido em 1751 – há 259 anos. Ele foi arrancado de seu continente natal, a África, pelos colonizadores europeus; mantido na escravidão, até que se revoltou, mas a abolição foi uma mentira. Tem sido submetido, durante os dois últimos séculos, a uma opressão comandada ora por tiranos, ora por governantes dóceis, mas sempre sob controle externo. (...)

O terremoto e seus mortos, entre eles a doutora Zilda Arns e os demais brasileiros ali atingidos, podem servir para despertar os remorsos e a solidariedade do mundo – que não deve limitar-se à presença dos soldados da ONU, nem aos donativos de emergência."


Mauro Santayana, no Jornal do Brasil do dia 14 de janeiro de 2010.


Li no Professor Texto, e roubei inclusive a imagem de lá.

Eu também vou reclamar!



Clame! Chame! Reclame!

VIVA RAUL SEIXAS!!!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
















Jamais se conseguirá fazer alguém ver aquilo que não viu por si mesmo, descobrir o que não descobriu sozinho. Jamais sem destruir sua visão, seja qual for o uso que se faça dela, de sua visão.

Essa pessoa, acho que é preciso abandoná-la a si mesma. Se tiver que mudar, mudará, como todo o mundo, súbita ou lentamente, a partir de uma frase ouvida na rua, de um amor, de uma leitura, de um encontro, mas sozinho. Num enfrentamento solitário com a mudança.

Marguerite Duras

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Anistia X Impunidade



Ao ministro da Defesa
Exmo. dr. Nelson Jobim

Invado sua caixa de mensagem pedindo atenção para um tema que trata do futuro, não do passado. O senhor me conhece pessoalmente e lembra-se de que, quando fui secretário de Cultura de Brasília, em 1996, o senhor era ministro da Justiça e instituiu e deu no Festival de Cinema de Brasília um prêmio para o filme que melhor abordasse a questão dos direitos humanos. Era uma preocupação comum a nossa.

Por que me dirijo agora ao senhor? Um punhado de cidadãos — hoje somos mais de dez mil — assinamos um manifesto afirmando que os envolvidos em crimes de tortura em nome do Estado brasileiro devem ser julgados e punidos por seus atos, contrários aos mais elementares sentimentos da nacionalidade. Agimos em nome da intransigente defesa dos direitos humanos.

O senhor, ministro da Defesa, homem comprometido com a ordem democrática, eminente advogado constitucionalista, um dos redatores e subscritores da Constituição de 1988, hoje em ação concertada com os comandantes das Forças Armadas, condena a iniciativa de punir torturadores.

Este gesto, na prática, resulta em dar proteção a bandidos que desonraram a farda que vestiam ao torturar, estuprar, roubar, enriquecer ilicitamente sempre agindo em nome das instituições que juraram defender. É incompreensível que o nosso futuro democrático seja posto em risco para acobertar crimes praticados por bandidos, o que reforça a sensação de impunidade.

O que está em juízo não é o julgamento das Forças Armadas, como afirmam os que as querem arrastar para o lodo moral que mergulharam. Os chefes militares podem ficar tranquilos porque seus antecessores não irão para a cadeia pelos crimes que cometeram.

O senhor deve estar se perguntando o porquê do meu empenho nesta causa. Vou lhe contar. Despontei pra a vida adulta sob a ditadura militar. Em 1964, tinha 14 anos e cresci sob o signo do medo. Sou de uma família de judeus liberais, meu pai advogado e minha mãe médica. Invoco as raízes judaicas porque meus pais eram muito marcados pelo Holocausto, pelos crimes nazistas cometidos contra a Humanidade. Tínhamos muito medo das soluções autoritárias.

Em 1969, um companheiro de cineclubismo sequestrou um avião para Cuba. Não tive nada a ver com isso. Meu crime foi ser amigo — sim, meu crime foi o de ser amigo de um sequestrador. Quase fui preso. Escapei dessa situação pela coragem pessoal de minha mãe, que driblou os imbecis fardados que foram me prender e consegui fugir de casa nas barbas da turma do Ministério da Aeronáutica. Tive também a ajuda do coronel-aviador Afrânio Aguiar, que se empenhou até a medula para que eu não fosse preso e massacrado na Aeronáutica.

Em 1970 fui viver no Chile por livre e espontânea vontade. Em janeiro de 1971, do Chile, mandei uma carta para minha mãe. O gesto lhe custou prisão e maus-tratos. Na carta pedia a minha mãe que me enviasse livros e minha máquina de escrever. Militares do DOI-Codi arrombaram minha casa, à procura de uma metralhadora (assim entenderam o que seria “máquina de escrever”). Minha mãe foi levada para o quartel da PE na Barão de Mesquita, onde foi humilhada e um dos “patriotas” que a conduziu assumiu de forma permanente a guarda do relógio que entrou com ela na PE e não voltou para casa.

Amigos ocultos numa rede de gente decente ajudaram a tirar minha mãe daquela filial verde-oliva do inferno. Sim, ministro, havia muita gente decente nas Forças Armadas. O que leva chefes militares e o ministro da Defesa a se pronunciarem contra a apuração de crimes? Tortura, estupro, morte, muitas vezes seguidos de roubo, são atos políticos passíveis de anistia?

Os chefes militares pronunciam-se a favor do pagamento de reparações às vítimas do arbítrio como um ato indenizatório. No meu caso, ministro, posso lhe dizer que não há dinheiro que feche essa conta. Não pedi anistia nem indenização porque acho que não sou merecedor. A reparação que peço é a punição exemplar dos torturadores da minha mãe. O senhor há de concordar que não estou pedindo muito nem nada despropositado.

Justiça, peço apenas justiça.
Bom 2010 para o senhor.
Atenciosamente,
Silvio Tendler

Carta do cineasta Silvio Tendler, publicada n'O Globo em 8 de janeiro de 2010.

Assino embaixo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Quem é do amor



















quem é do amor não engana
ama mesmo as duras penas
por isso não são pequenas
as doces vezes do amor
quem é do amor é mais quente
viaja contra a corrente
tem sangue de aguardente
nas doces veias do amor

quem é do amor tem o nome
de raoni da floresta
ruschi do espirito santo
da medicina da selva
quem é do amor é mais simples
tem uma cara de nuvem
e não permite que sujem
o verde da sua relva

quem é do amor somos nós
consolo dos idiotas
chave de se abrir as portas
dupla que se satisfaz
que amor assim é pros vivos
pros rituais pros sentidos
não é para ser escrito
não é para os livros que se faz

Sérgio Sampaio

Do ótimo cd Cruel (ouça aqui).

















"...por isso, quer o mundo esteja caindo aos pedaços ou não, quer você esteja do lado dos anjos ou do próprio diabo, divirta-se, espalhe alegria e confusão."

Henry Miller

Com foto de Peter Gowland.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Queremos a presença das coisas















Queremos a presença das coisas. É tão simples, isto: queremos as coisas próximas, íntimas, como peças de roupa pousadas na cadeira ao nosso lado. Próximo e íntimo, desse mesmo modo, o que nos pertence ainda mais de perto: a evidência viva do mundo. E toda inteira, já agora. Queremos aberta a porta do ser – que há-de ter certamente uma porta. Vendo bem, porque não haveria essa porta? Há, em certos dias, em certos lugares do mundo, uma tão certa harmonia entre a temperatura do corpo e a do ar que quase se perde a noção de entre uma coisa e outra ser a pele uma fronteira. O ar parece então levemente texturado, suave como algodão em rama. Dir-se-ia que o trazemos vestido. É qualquer coisa como isto, o que queremos. Algo de que esse envolvimento fosse a imagem ou – melhor ainda -simplesmente um caso muito concreto.

Rosa Maria Martelo, em A Porta de Duchamp

Vi no maravilhoso Palavra Aguda.

E com foto de Elisa Mendes, do Bonito isso.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Do you want to know a secret?



"Let me whisper in your ear..."

The Beatles!!!!!!!! Yeah, yeah, yeah!!!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Em 2010, não deixe de caminhar!






















"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

Eduardo Galeano

sábado, 2 de janeiro de 2010

Pra quando o carnaval chegar...



Los Hermanos!!!
Da série "Ex-alunos que me enchem de orgulho!"  :-)