sábado, 28 de agosto de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010



















O novo sempre acontece à revelia da esmagadora força das leis estatísticas e de sua probabilidade que, para fins práticos e cotidianos, equivale à certeza; assim o novo sempre surge sob o disfarce do milagre. O fato de que o homem é capaz de agir significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável. E isto, por sua vez, só é possível porque cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo. Desse alguém que é singular pode-se dizer, com certeza, que antes dele não havia ninguém. Se a ação, como início, corresponde ao fato do nascimento, se é a efetivação da condição humana da natalidade, o discurso corresponde ao fato da distinção e é a efetivação da condição humana da pluralidade, isto é, do viver como ser distinto e singular entre iguais.

Hannah Arendt, em A Condição Humana.

terça-feira, 10 de agosto de 2010



















Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,
se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado

terça-feira, 3 de agosto de 2010