domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aonde todos querem chegar



Música, direção, roteiro e animações, ou seja, TUDO de Humberto Barros!
Fantástico.
Tb da série "Porque me ufano dos meus amigos".   :-)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010



















Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos,
resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.
Por isso, digo, quando não obtivermos o amor,
o afeto ou a ternura que havíamos solicitado,
melhor será desistirmos
e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram.
Não fazer esforços inúteis,
pois o amor nasce, ou não, espontaneamente,
mas nunca por força de imposição.
Às vezes, é inútil esforçar-se demais,
nada se consegue;
outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa.
Nunca foram uma caridade mendigada,
uma compaixão ou um favor concedido.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal,
e desprezamos quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor,
e falhado, resta-nos um só caminho...
o de mais nada fazer.
Clarice Lispector

Com a pintura de Edward Hopper.
















Conheça Bezerra: http://bomcamarada.wordpress.com/

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010



Ainda em homenagem.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Flor da vida

A convulsão trágica precede a do riso. A vida brota da morte. Cegonhas e andorinhas trocam de clima, sem jamais abandoná-lo inteiramente. E é assim que tudo se conserta e se restitui.

Machado de Assis, em Viver

Em homenagem ao amigo Rômulo, que partiu.

Cruel II

cruel é mentir uma vez e não parar
cruel é saber do filho devagar
cruel é fazer bonito e não vencer
cruel é ver a mãe morrer
cruel é acordar desaparafusado
cruel é pedir a Deus e ao diabo
cruel é desaprender a namorar
cruel é assistir o tempo voar
cruel é falar pensando alto
cruel é falhar na hora do ato
cruel é ouvir sempre o mesmo som
cruel é o desprezo do garçom
cruel é evitar o espelho
cruel é espalhar mau cheiro
cruel é se culpar de tudo
cruel é viver só no futuro
cruel é banhar neném na poça
cruel é tratar mal a moça
cruel é não parar de suar
cruel é não mais respirar

De Mauro Santa Cecília

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010














"Bonito é tudo aquilo que não dou conta de ver sozinho", costuma dizer um amigo meu.
Deve ser essa também a idéia da arte de rua.
Conheça o unurth: uma galeria de fotos de arte de rua do mundo todo.
Dica do bonito isso.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.

Italo Calvino, em As cidades invisíveis.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Acho que estou a precisar de ir descansar













Acho que estou a precisar de ir descansar. Vou para o meu quarto,
que sei perfeitamente onde fica.

Lembro-me de outrora ter escrito livros, de ter
falado de bosques.
Agora só tenho no meu quarto
um armário cheio de pequenas gavetas,
fechadas por alguém ou por mim há muito tempo.

Um solitário feixe de luz incide no armário,
parece vir enfeitado de lampadazinhas coloridas,
conhecidas também por colours of the rainbow.
Naquela gaveta poderá estar um perfil de telhados –
silhueta trespassada
pelo grande sol frio do fim da tarde.

Lembro-me de outrora ter falado de bosques…
Naquela gaveta poderá estar o espelho longevo
com seu insubstituível reflexo de divisões infantis.

Quatro ou cinco gavetas terão uma praia
que se estende com a luz matinal
a varar as distâncias.

Outras terão as abas dos guarda-sóis
com o som que fazem quando lhes dá o vento.

Tenho um armário com as imagens separadas
que tão a sós não fazem um poema.

A perenidade ao sol
de Françoise a beber o mazagrin
também deve estar em alguma gaveta.

Não faço ideia da gaveta em que estará a tarde
que decorre com esplanadas ao fundo
e onde tudo quanto se move
é descontracção e alegria.

Fátima oferece-me água da Serra da Penha
numa gaveta que exista e que seja secreta.

Em que gaveta estará o menino a lamentar-se aos pais
por o caranguejo que apanhara
já não estar no balde que trazia?

Françoise bebe agora um cocktail, talvez de ginger ale.
Mas não sei em que gaveta. Se bem me recordo, contemplava um soleil couchant,
kitsch, ele também, por sua vez, mas lindo até ao fim do mundo.

…………………………………………………..

distantes margens delineando a noite,
pontilhadas por pequenas iluminações esparsas
que parecem só existir assim, vistas de longe.

Dentro desta gaveta estou eu com dezassete anos, no pinhal ao sol,
com duas latinhas de lulas e a minha ideia de poesia.

Aquela gaveta, que parece mais privada,
seria a que as mulheres daquele tempo escolheriam
para retocar nos lábios o bâton cereja.

E nesta, mais notória,
estarão os cães a ladrar e a caravana a passar.

Tenho ideia de que será nesta gaveta – bem, ou talvez nesta –
que se poderá encontrar Françoise
a soltar o seu cabelo castanho de francesa.

Mas, por exemplo, não faço a mínima ideia
onde possa estar a brisa suave que ameniza a temperatura de Agosto,
nem a gaveta que guarda o relógio que nunca pára
e que agora, muito naturalmente, assinalará as banalíssimas onze da manhã.

É provável que no armário já não exista nenhuma gaveta
com o entusiasmo do mar sobre os penedos. É provável que já não haja
nenhuma gaveta vaga para a senhora de apelido Araújo
e para as palavras límpidas que de olhos nos olhos dissemos,
enquanto – na voragem exterior a nós – lhe dedicava um livro
e lhe entregava nesse olhar os meus últimos feixes
de vitalidade, os meus mais raiados votos de que fosse feliz.

Não mais a verei, amável senhora,
inteligente e bonita senhora sensível. Não mais a verei,
e vim para esta casa com essa amargura.
Porque penso que a poderão interessar, procure as palavras
de Isabel Rio Novo sobre a Dimensão Fantástica.
Presumo que as encontrará com facilidade nos recentes dispositivos tecnológicos.
E procure também a própria Isabel Rio Novo; encontrá-la-á
ao seguir pela escada que dá para o lado do mar.

Senhora de apelido Araújo, esta foi a forma que tive de comunicar
consigo. De lhe dizer que acredito em si. De lhe dizer
que acredito na Nova Mulher, com a Qual (movimentos democráticos
de cariz feminista) me estanciei no lindíssimo período da minha mocidade. Essa [Mulher
é ainda hoje a minha Mulher favorita. E agora, desta vez, sugiro-lhe
que procure Ana Luísa Amaral, encontrá-la-á com facilidade onde estiver a [acontecer
a boa educação.

Mostre a sua existência, caríssima senhora Araújo, mostre o seu valor,
mostre que não é uma metáfora deste texto. E exista tal qual é,
ouça, tal qual é, não pusilânime, não petulante feita à pressa, não solerte
miserabilista, não carneirinha da manada, e sabendo
– como bem o sabe – que o azedume não é sinónimo de raciocínio,
antes sim, como facilmente se compreende
(só os próprios azedos não o compreendem por nada saberem raciocinar),
sinónimo das próprias frustrações.
esta foi, bela senhora de apelido Araújo, a forma que tive de comunicar
consigo, a forma que encontrei para lhe poder dedicar as duas próximas estrofes.

Crianças de aldeias, crianças a quem na infância acenei
do vidro traseiro do automóvel rápido
e que ficaram pelos caminhos a brincar ao verão,
sem que para isso precisassem de conhecer praias.
O que foi feito de vós?
O que fizestes aos vossos sorrisos puros?
Como eu gostava que a minha vida vos tivesse oferecido uma gaveta!
Choro agora de tantas saudades por tão breves instantes.

Raparigas contentes em suas roupas claras,
em suas roupas claras sobre os seios que cresciam,
amei-vos sem nunca mais vos ver,
amei-vos por nunca mais vos ter visto,
amei-vos intensamente, como a qualquer coisa que se desprende
e se perde da nossa lembrança de saber o quê.

Em mim ficastes a pertencer às distâncias cheias de luz,
diluídas agora, e ainda mais, pelas minhas lágrimas.

Neste momento, tardio, em que é de mim que me despeço,
entregar-vos-ia, no melhor gesto da vida, o meu armário todo.

A baleia encalhada deve estar nesta gaveta maior,
e nestas ao lado estarão as pessoas transportando água do oceano
para lhe verter no dorso.

Se de facto é nesta gaveta maior que está a baleia,
é por aqui que está o marinheiro da luz pálida e molhada,
a comunicar que mais nada se podia fazer;
a baleia tinha morrido.

Lembro-me de um dia ter escrito livros, de ter
falado de bosques.

Agora só tenho no meu quarto
um armário cheio de gavetas
fechadas por alguém ou por mim há muito tempo.

Um armário com imagens separadas
que tão a sós não fazem um poema.


De Daniel Maia-Pinto Rodrigues, no livro A casa da meia distância, lançado ontem em Portugal.

E que me foi dado à descoberta no lindo As folhas ardem.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Heaven can wait



O talento de Charlotte Gainsbourg (e o DNA poderoso de Serge Gainsbourg e Jane Birkin) somado ao talento de Beck. Música e clip sensacionais.

(Valeu a dica, Godum!)

sábado, 6 de fevereiro de 2010



Linda cena, com os talentosos Charlotte Gainsbourg e Johnny Deep e a bela música do Radiohead.
Do filme ... e viveram felizes para sempre (2004), de Yvan Attal.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tus regalos deberían de llegar




Tus regalos deberían de llegar
Si todo se termina ,
Todo vuelve a empezar.
La mañana que se viene
Es una vieja sensación
Que refleja en los espejos del tiempo.
Y la niña acurrucada en el rincón
Es la chica contra la furia de dios.
Tus regalos deberían de llegar
No es mucho lo que tengo para darte, mirá.

Y no sabés si detenerte o llover
Y parada sobre el mundo a tus pies
Tu sonrisa que nos hace temblar
Tiembla el mundo
Que no entiende al final
Ese beso de la vida, la sutil melancolía
El momento cuando piras
Los espacios donde miras
Y las gotas de tu lluvia se irán
Y tus regalos deberían de llegar
Y las gotas de tu lluvia se irán.


Trecho de Tus regalos deberían de llegar, de Fito Paez.