sábado, 31 de outubro de 2009

God save the queen: Nina!



Nina é... tudo!

God's Praxis

1.
Os prazeres do seres
humanos
são articulados por
memória e jogo.

2.
O esquecimento das regras
é fundamental de tempos
em tempos.

Mauro Santa Cecília, em A todo transe

When we were kings!




When we were kings (1996), documentário de Leon Gast, vale ser visto. Conta a história da famosa Rumble in the jungle: a luta entre Muhammad Ali e George Foreman no Zaire (hoje República Democrática do Congo), em 1974, pelo campeonato mundial de pesos-pesados. O desafio foi promovido pelo controvertido Don King e patrocinado pelo ditador Mobutu Sese Seko, que dominou o Zaire de 1965 a 1997 (sobre ele há também Mobutu, rei do Zaire, de Thierry Michel). O filme mostra Muhammad Ali no auge de seu carisma, protagonizando essa “viagem de volta às raízes africanas”. Vale lembrar que ele havia perdido o título de campeão mundial em 1967, por ter se recusado a ir para a Guerra do Vietnã. O filme tem entrevistas fantásticas, com Norman Mailer e Spike Lee, entre outros, e trechos do “black Woodstock”, o festival de música simultâneo à luta, que contou com nomes como James Brown e B.B.King (todo documentado no filme Soul Power, de 2008).

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nau

Quer dizer: agora.

Usa-se para
os descobrimentos.

Sérgio Alcides, em Nada a ver com a lua

Estela Cassilatti em "Al"



Da série "Porque me ufano dos meus amigos..."
;-)

Conheça Estela Cassilatti no myspace: clique aqui.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pensando: as nossas contradições nada mais são do que a vida atuando sobre os nossos corações.
Do twitter do Palavra Aguda

Rhythm is love



"Rhythm is love
Heaven is just another world
For the feelin called
Musical"

Rhythm is love (Keziah Jones)

História da moça cega convertida à Igreja de Nova Vida



Eu a vi no trem do metrô, indo pra Pavuna. Fazia frio, fazia calor. Tudo depende de quem vê. A moça cega inspira pena, dó, compaixão. Mas a roupa que combina ensina que talvez ali não haja completa solidão. Seios fartos, cabelos negros e compridos. Não fosse cega, seria bonita. A cegueira, no entanto, é desproteção. E ela cresceu curvada, cresceu quase bicho. Num mundo de sons, cheiros e tatos. Mas sem olhares ou espelhos. A moça cega no trem do metrô. Nada vê? Tudo sabe? A moça cega é tão jovem que deve sonhar. Mas traz sombrancelhas que franzem até encontrarem-se na mais profunda circunspecção. A moça cega ouve uma voz Te quiero, como o som da novela no canto da sala, como o rádio cantando na cozinha. Te quiero, repete.

Na vida há mais do que dizemos a nós mesmos?

Te quiero, repete.



(com Moça diante do espelho, de Pablo Picasso)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009



uma grande nuvem rosa
roça a testa
do cristo redentor
nesse exato instante agora
a revolução sutil silenciosa
que jamais se pôde supor

Dado Amaral, em Olho nu
(com foto de Pedro Farina)

A cor púrpura da amizade



"Oh sister, have I got news for you
I´m somethin'
I hope you think
that you´re somethin' too"

Miss Celie's Blues (Quincy Jones)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A dor e a delícia de ser o que é



Na fantástica galeria One in 8 Million, organizada pelo The New York Times, pessoas comuns contam suas histórias. É o lado anônimo de Nova Iorque, em emocionantes e emocionadas narrativas. As (belas!) fotos são de Todd Heisler. Toda semana é atualizada com um novo personagem.
Vale a visita!

(vi no Let's blogar e no bonito isso:)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ventania

 

O suspiro de amor
Vira sopro de vida.

domingo, 25 de outubro de 2009

Peace train!




Diante dos variados absurdos já tornados cotidianos, cada um faz seu protesto.



Fica aqui o meu em forma de esperança:

"Cause out on the edge of darkness, there rides a peace train
Oh peace train take this country, come take me home again"

Incenso fosse música

 

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Paulo Leminski, em Distraídos venceremos

Dia da criação



Vou esculpir os dias
à minha imagem
e semelhança
que sejam belos
que sejam tristes
que sejam
dias
a mais
a menos
para quem
tanto faz
os dias
serão
a vida.

Sweet leaf



Alright now!
Won't you listen?

When I first met you, didn't realize
I can't forget you, for your surprise
You introduced me to my mind
And left me wanting you and your kind

I love you, Oh you know it

My life was empty, forever on a down
Until you took me, showed me around
My life is free now, my life is clear
I love you sweet leaf, though you can't hear

Come on now, try it out

Straight people don't know what you're about
They put you down and shut you out
You gave to me a new belief
And soon the world will love you, sweet leaf

Black Sabbath (pois os brutos também amam: veja aqui)

sábado, 24 de outubro de 2009

A linguagem é um barato



Viva Leminski, sempre!

Ô abre-alas...




Ninguém pode me abater
Nem vai me ferir

Cuidado oh montanhas!
Saiam do caminho
Ou serão abaladas e derrubadas sempre

Oceano abra-se agora
Ou seque, queime, evapore e vá embora

Poema budista (aprendido com o pessoal do Boato)

Simetria



Nunca tão curto
Que não alcance
Nunca tão longo
Que nos separe
O braço tem a extensão
Do encontro
Os ângulos têm a dimensão
Do encaixe
Tanta errância
Tanta estrada
Que no fim vai dar
Em caminho
Nunca tão curto
Que não alcance
Nunca tão longo
Que nos separe

Blufunk is a fact!



Keziah Jones: que bom que o meu tempo é esse!

Retira-se entulho


Retira-se entulho
Da terra prometida
E joga-se uma pá de cal
No que não deu
Prepara-se o terreno
Para receber da vida
O troco da passagem
Da viagem
Sem retorno
Sem sinal
E sem contorno
Que cada um escolheu

Pois é...



Entender é parede.
Procure ser uma árvore.

Manoel de Barros

Desenredo

Grande admiração me causam os navios
e a letra de certas pessoas que esforço por imitar.
Dos meus, só eu conheço o mar.
Conto e reconto, eles dizem ‘anh’.
E continuam cercando o galinheiro de tela.
Falo de espuma, do tamanho cansativo das águas,
eles nem lembram que tem o Quênia,
nem de leve adivinham que estou pensando em Tanzânia.
Afainosos me mostram o lote: aqui vai ser a cozinha,
logo ali a horta de couve.
Não sei o que fazer com o litoral.
Fazia tarde bonita quando me inseri na janela, entre meus tios,
e vi o homem com a braguilha aberta,
o pé de rosa-doida enjerizado de rosas.
Horas e horas conversamos inconscientemente em português
como se fora esta a única língua do mundo.
Antes de depois da fé eu pergunto cadê os meus que se foram,
porque sou humana, com capricho tampo o restinho de molho na panela.

Saberemos viver uma vida melhor que esta,
quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos?
Sofrer não é em língua nenhuma.
Sofri e sofro em Minas Gerais e na beira do oceano.
Estarreço de estar viva. Ó luar do sertão,
ó matas que não preciso ver pra me perder,
ó cidades grandes, estados do Brasil que amo como se os tivesse inventado.

Ser brasileira me determina de modo emocionante
e isto, que posso chamar de destino, sem pecar,
descansa meu bem-querer.
Tudo junto é inteligível demais e eu não suporto.
Valha-me noite que me cobre de sono.
O pensamento da morte não se acostuma comigo.
Estremecerei de susto até dormir.
E no entanto é tudo tão pequeno.
Para o desejo do meu coração
o mar é uma gota.

Adélia Prado, em O coração disparado

Valeu



dois namorados
olhando o céu
chegam à mesma conclusão
mesmo que a terra
não passe da próxima guerra
mesmo assim valeu

valeu
encharcar este planeta de suor
valeu
encarar esta vida que podia ser melhor
valeu
esquecer as coisas que eu sei de cor

valeu
valeu

Paulo Leminski, em Envie meu dicionário

Sobre a leitura



“Não há talvez dias de nossa infância que tenhamos vivido tão plenamente quanto aqueles que acreditamos passar sem vivê-los, aqueles que passamos com um livro preferido. Tudo aquilo que parecia preencher os dias para os outros, e que nós descartávamos como um obstáculo vulgar a um prazer divino: o jogo para o qual um amigo vinha nos chamar logo na passagem mais interessante; a abelha ou o raio de sol incômodos que nos forçavam a elevar os olhos da página ou mudar de lugar; o lanche que alguém nos trouxe e que deixamos ao lado, sobre um banco, sem tocá-lo, enquanto, acima de nossa cabeça, o sol diminuía de força no céu azul; o jantar para o qual era preciso voltar à casa e durante o qual não pensávamos senão em terminar, imediatamente depois, o capítulo interrompido; tudo isso, de que a leitura teria nos impedido de perceber outra coisa que não o importuno, deixou em nós ao contrário uma lembrança realmente doce (realmente mais preciosa em nosso julgamento atual que aquilo que líamos então com tanto amor), que, se nos ocorre hoje ainda folhear esses livros de outrora, não é senão como calendários que nós teríamos guardado dos dias já passados, e com a esperança de ver refletidos sobre suas páginas as habitações e os lagos que não existem mais.”
Marcel Proust
Obs: tradução minha, agradeço a indicação de eventuais imprecisões e erros.

Elvis não morreu!



O Rei! A prova de que o tempo é um lugar que não existe. ;-)

Cada um



"Tudo esgotou-se e parece, repentinamente, anular-se, derrubada a própria importância num insuspeitado passe de prestidigitação. Não se sabe de onde vem, e nem que causas o originaram. Procura-se dentro do próprio estado, e verifica-se com espanto não existir mais esse "espaço". A pessoa está só: nem há mais interesse. Mas a corrosiva, a pequenina personalidade em desespero, debate-se impertinente, treinando outra atitude. Busca ali o exterior. Transvasa: justo o movimento de um braço quando afasta-se no gesto de ir buscar fora do corpo... E traz."

Mário Peixoto, em O inútil de cada um

A busca insensata



Saindo à minha procura
fui por caminhos travessios
e vales e rios.
Pisei areias inumeráveis,
bebi em muitos mananciais
e em sonhos escalei
penedos que eram ninhos de relâmpagos.
Mas a minha sede - a de ser eu mesmo -
não se saciou jamais.

Lêdo Ivo, em O soldado raso

Tempo



Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.

Adélia Prado, em O coração disparado

Queen + Béjart



Maurice Béjart: minha idéia de deus.

(e Elisabeth Ros é realmente uma bailarina admirável!)

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
Já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado

Esperança


"Custei um pouco a compreender o que estava vendo, de tão inesperado e sutil que era; estava vendo um inseto pousado, verde claro, de pernas altas. Era uma esperança e que sempre me disseram que é de bom augúrio. Depois a esperança começou a andar bem de leve sobre o colchão. Era verde transparente, com pernas que mantinham seu corpo em plano alto e por assim dizer, solto, um plano tão frágil quanto as próprias pernas que eram feitas apenas da cor da casca. Dentro do fiapo das pernas não havia nada dentro: o lado de dentro de uma superfície tão rasa já é a outra própria superfície. Parecia com um raso desenho que tivesse saído do papel e, verde andasse. Mas, andava sonâmbula, determinada. Sonâmbula: uma folha mínima de árvore que tivesse ganho a independência solitária dos que seguem o apagado traço do destino. E andava com uma determinação de quem copiasse um traço que era invisível para mim. Sem tremor ela andava. Seu mecanismo interior não era trêmulo, mas tinha o entremecimento regular do mais frágil relógio. Como seria o amor entre duas esperanças? verde e verde, e depois o mesmo verde, que de repente, por vibração de verde, se torna verde. Amor predestinado pelo seu próprio mecanismo semi-aéreo. Mas onde estariam nela as glândulas de seu destino, e as adrenalinas de seu sêco e verde interior? Pois era um ser oco, um enxerto de gravetos, simples atração eletiva de linhas verdes. Como eu? Eu. Nós? Nós. Nessa magra esperança de pernas altas, que caminharia sobre um seio sem nem sequer acordar o resto do corpo, nessa esperança que não pode ser ôca, nessa esperança a energia atômica sem tragédia se encaminha em silêncio. Nós? Nós."
Clarice Lispector