segunda-feira, 28 de junho de 2010
"Espaço curvo e finito", por Saramago.
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
José Saramago, no livro Os Poemas Possíveis.
Com foto de Pedro Walter: José Saramago na praia Quemada, entre Yaiza e Tías, Lanzarote (Canárias).
Li no As folhas ardem.
Salve, salve: pra sempre Saramago!
terça-feira, 15 de junho de 2010
Porque acreditar nas pessoas
Nesse trecho de conferência em 1972, o psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, Viktor Frankl, nos oferece uma poderosa visão sobre a busca do homem pelo sentido da vida e sobre a importância de ter o outro em alta conta.
:-)
domingo, 13 de junho de 2010
sábado, 12 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Da série "Reis do suingue"
O tempo é um lugar que não existe, mas Tim Maia avisa:
"A idade tarda um pouco / mas se chega é pra valer".
;-)
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Adorei fazer esse!
Apresentação: Pedro Bial
Roteiro: João Carrascosa e Pedro Bial
Direção: Pedro Carvana
E ADOREI FAZER ESSE TAMBÉM:
Programa ASSUNTO: "A busca pela eterna juventude"
Apresentação: Pedro Bial
Roteiro: João Carrascosa e Pedro Bial
Direção: Mauro Mendonça Filho
Para assistir, clique aqui.
terça-feira, 8 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
A vida é a oferta que agradeço
hoje. Toda a vida é hoje. Os teus olhos
e os meus olhos. O ponto em que se deram
é hoje. E até onde chegam e de onde
regressam, é hoje.
Toda a vida é hoje, e parece-me
suficiente o ter vivido tanto
se neste hoje de hoje cabe o teu lúcido
olhar sobre mim, e o futuro é
um hoje perpetuamente teu.
Concede-me agora
a felicidade de morrer, hoje que não tenho
nem passado nem medo.
Federico Gallego Ripoll
Li no Palavra Aguda.
hoje. Toda a vida é hoje. Os teus olhos
e os meus olhos. O ponto em que se deram
é hoje. E até onde chegam e de onde
regressam, é hoje.
Toda a vida é hoje, e parece-me
suficiente o ter vivido tanto
se neste hoje de hoje cabe o teu lúcido
olhar sobre mim, e o futuro é
um hoje perpetuamente teu.
Concede-me agora
a felicidade de morrer, hoje que não tenho
nem passado nem medo.
Federico Gallego Ripoll
Li no Palavra Aguda.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
"Ser brotinho", Paulo Mendes Campos
Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível. Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos.
Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder con tar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.
Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa.
Ser brotinho é a inclinação do momento.É telefonar muito, estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas. Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.
É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.
Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição.
Amanhecer chorando, anoitecer dançando.
É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser.
É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial.
Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.
Paulo Mendes Campos
(Valeu, Maroca!!!)
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