segunda-feira, 11 de junho de 2012

O tempo passa. Às vezes penso que teria que andar de pressa, aproveitar o máximo possível estes anos que me restam. Hoje em dia, qualquer um pode me dizer, depois de escrutinar minhas rugas: “Ora, mas você ainda é um homem jovem”. Ainda. Quantos anos me restam desse “ainda”? Penso nisso e me aflijo, tenho a angustiante sensação de que a vida está me escapando, como se minhas veias tivessem se aberto e eu não pudesse estancar o sangue. Porque a vida é muitas coisas (trabalho, dinheiro, sorte, amizade, saúde, complicações), mas ninguém vai me negar que, quando pensamos nessa palavra Vida, quando dizemos, por exemplo, que “nos apegamos à vida”, estamos fazendo com que seja assimilada por outra palavra mais concreta, mais atraente, mais seguramente importante: estamos fazendo que seja assimilada pelo Prazer. Penso no prazer (qualquer forma de prazer) e estou certo de que isso é a vida. Daí vem a aflição (…). Ainda me restam, assim espero, uns quantos anos de amizade, de saúde aceitável, de ocupações rotineiras, de expectativa diante da sorte, mas quantos me restam de prazer? (…) “Ainda” quer dizer: está no fim.
E este é o lado absurdo de nosso acordo: dissemos que levaríamos tudo com calma, que deixaríamos o tempo correr, que depois reveríamos a situação. Mas o tempo corre, deixemos ou não (…) A experiência é boa quando vem junto com o vigor; depois, quando o vigor se vai, resta apenas uma peça de museu, decorativa, cujo único valor reside em ser uma recordação daquilo que já se foi. A experiência e o vigor são simultâneos por muito pouco tempo. Estou agora nesse pouco tempo. Não se trata, porém, de uma sorte invejável.


Mario Benedetti, no livro A Trégua.

2 comentários:

  1. Belas palavras!

    Mas que soam tão tristes...

    Gostaria de saber algo que trouxesse algum alívio, mas nâo sei. Contudo, escrevendo aqui, surgiu uma pequena explicação pra uma das muitas perguntas.

    Aquela que, pra mim, fica mais do lado de fora, na casca. Não, não é a maior nem.a.mais importante, mas é que um dia, la trás, me fez chegar até aqui hoje.

    Uma busca desesperada de uma verdade infinita e irreal, como só a verdadeira verdade poderia ser.. rsrsrs

    Acredita que o termo que me trouxe até aqui foi "o tempo não existe" ??
    Maluco esse google, né?

    Que mundo é esse que vivemos?
    Será que fomos agraciados com alguma benção transcedental ou seria uma maldição, sermos essa falha na ilusória perfeição que é a Matrix??


    Não se encaixar..
    Não encontrar seu espaço..
    Sentir-se tão triste como poucos podem imaginar...
    E muitas vezes, consciente e "pilantramente", nos deixar levar pela ilusão só pra descansar um pouquinho...

    Só a verdade liberta..

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  2. Benvindo, Danilo! Que as verdades temporárias e as belezas infinitas do que outros escreveram nos ajudem a viver o tempo! abs

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