quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sossego

Sim, existe sim um colírio
que lava o mundo, até mesmo
o universo

Aquela mocinha goiana
pele de bronze e de ouro
corpo desgracioso
vista
apoiada na esquadria
da porta da cozinha
que dá para o pátio da entrada

Na pose clássica
musical coreográfica
do pé nuzinho cruzado
com o outro
calçado com a sandália de dedo

(a outra soltinha do lado)

A primeira luz do
primeiro dia
fora do Paraíso
brilha naquele sorriso
de dentes meio vítreo-
escurinhos

O papagaio
no dedo
assovia que gostosa
para a multidão de
desejos

Enquanto o velho
barbicha
que há pouco deblaterava
esquece de tudo
dos ratos,
que não sentem gosto
mas têm faro apurado
e comem a ração dos cachorros

Ficam ali os quatro
a moça, o louro
o velho e um
quarto

O mundo apazigou-se

Sossegou

 
Francisco Alvim

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