quinta-feira, 19 de novembro de 2009

É bom viver?

Clarice Lispector: Hélio, é bom viver, não é?
Hélio Pellegrino: Viver, essa difícil alegria. Viver é jogo, é risco. Quem joga pode ganhar ou perder. O começo da sabedoria consiste em aceitarmos que perder também faz parte do jogo. Quando isso acontece, ganhamos algo extremamente precioso: ganhamos nossa possibilidade de ganhar. Se sei perder, sei ganhar. Se não sei perder, não ganho nada, e terei sempre as mãos vazias. Quem não sabe perder, acumula ferrugem nos olhos, e se torna cego – cego de rancor. Quando a gente chega a aceitar, com verdadeira e profunda humildade, as regras do jogo existencial, viver se torna mais do que bom – se torna fascinante. Viver bem é consumir-se, é queimar os carvões do tempo que nos constitui. Somos feitos de tempo, e isso significa: somos passagem, somos movimento sem trégua, finitude. A cota de eternidade que nos cabe está encravada no tempo. É preciso garimpá-la, com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa fulgir em nosso lábio. Se assim acontece, somos alegres e bons, e a nossa vida tem sentido.

Citado no instigante artigo Vida de clichê, de Eliane Brum, publicado na revista Época em 24/08/2009. Clique aqui para ler o texto.

Em tempo: esse é um trecho da entrevista de Hélio Pellegrino a Clarice Lispector. Que encontro! Para conhecer a atuação de Clarice como jornalista, leia aqui. Para saber mais sobre as entrevistas realizadas por ela, veja aqui. E dica imperdível: o livro Clarice Lispector - Entrevistas, publicado pela Editora Rocco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário