quinta-feira, 29 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Gil Scott-Heron em "The revolution will not be televised"
"Durante muitos anos era apresentado como o "Bob Dylan negro", pela costela política. Mas sempre foi mais direto ao assunto, ou não tivesse escrito uma canção sobre segregação racial na África do Sul chamada "Johannesburg"; ou outra sobre alcoolismo, "The bottle." "Quando comecei a minha audiência não tinha muita paciência" - lembra, com alguma ironia, numa entrevista dada por estes dias -, "não havia espaço para grandes subtilezas".
No final dos anos 60 e primórdios dos 70, num período de lutas cívicas, convulsões econômicas e mudanças sociais aceleradas, poucos conseguiram capturar as contradições de um país, a América, como ele. Inicialmente através da escrita - publicou o primeiro livro, "The Vulture", aos 19 anos. Mais tarde, quando ia publicar o terceiro livro, e depois de ter conhecido o músico e produtor Brian Jackson que o viria a acompanhar durante mais duas décadas, entendeu que o método de comunicar teria que mudar e a soul, o funk ou o jazz tornaram-se no veículo de difusão da sua paixão: a poesia.
Nesse período debitava acima de tudo para audiências negras, aprendendo com a "spoken-word" do poeta e ativista Amiri Baraka ou com o jazz de Coltrane e Miles Davis. Mais tarde, no final dos anos 70 e primórdios dos 80, quando o hip-hop irrompeu, foi considerado um dos pioneiros do gênero. Grupos como Public Enemy ou Disposable Heroes Of Hiphoprisy citavam-no e novas gerações, de todas as cores, redescobriam-no."
Trecho do texto de Vítor Balenciano sobre Gil Scott-Heron, que você pode ler na íntegra clicando aqui.
terça-feira, 20 de abril de 2010
O que passou, passou?
“Somos aquilo que nos lembramos e, além disso, eu costumo acrescentar, somos também aquilo que podemos esquecer”, diz Ivan Izquierdo em Utopia e Barbárie. Faz lembrar a advertência de David Lowenthal, de que o “passado não está simplesmente lá, num país separado e estrangeiro, ele é assimilado por nós e ressuscitado num presente sempre em mutação”. “Assim como somos produtos do passado”, ele continua, “também o passado conhecido é um artefato nosso”. Então, o que passou nos constitui (enquanto identidade) e (enquanto narrativa) está sendo permanentemente transformado pelo que somos, hoje.
A história já foi tida como um repositório de ensinamentos atemporais e, portanto, eternos. A “história mestra da vida” oferecia as lições morais de um tempo (supostamente) sempre igual. O historiador Reinhart Koselleck explica que, na acepção da Antiguidade ou do Cristianismo, não se esperava do futuro algo de fundamentalmente novo, mas somente algo análogo ou igual. O horizonte de expectativa acerca do futuro coincidia com o espaço de experiência vivido até então.
É o Iluminismo - e sua noção de progresso - que produz o descolamento entre espaço de experiência e horizonte de expectativa. A história passa a ser entendida como um espaço aberto à experiência humana. A história passa a ser percebida enquanto processo. Na visão iluminista, um processo de realização da razão. O Iluminismo instaura o “reino da crítica”, diz o historiador alemão. E “a crise invoca a pergunta ao futuro histórico”. A Revolução Francesa encarna o lugar de acontecimento paradigmático dessa nova (ou melhor, nascente) consciência histórica: a noção de que as coisas podem ser diferentes, e melhores. A história passa a ter motor: as idéias, os ideais, os “ismos” (que Koselleck chama de conceitos de movimento), tais como o republicanismo, o socialismo, o comunismo e tantos outros...
Chegamos, então, a Utopia e Barbárie. O filme de Silvio Tendler narra a experiência do século XX e mostra a humanidade em seus movimentos de utopia e barbárie. O século XX dos lemas libertários da década de 1960 é o mesmo século em que o Holocausto provou que a humanidade nem sempre se move na direção do progresso e da razão. Como já bem disse o poeta Ferreira Gullar, a humanidade do ser humano é uma coisa inventada, pelo próprio homem.
A recente tragédia no Haiti, em janeiro de 2010, adverte: as conseqüências de nossos atos históricos podem voltar qual tsunami, qual terremoto, e destruir tudo. A tragédia do Haiti não é apenas natural (o terremoto). Como escreveu Mauro Santayama, ela é histórica. O passado de exploração sobre o povo haitiano semeou a obra de desvastação que o terremoto apenas concluiu. O passado, portanto, não é algo que passou.
George Kubler, historiador americano, escreveu: “Todos os eventos do passado são mais remotos para os nossos sentidos do que as estrelas das mais distantes galáxias, cuja luz pelo menos ainda alcança os telescópios”. Pois Silvio Tendler construiu, com Utopia e Barbárie, um potente telescópio, que aponta para o passado, mas também para o futuro, na medida em que pode instaurar um espaço de reflexão, de crítica. Sobre nós, sobre o que viemos fazendo – enquanto humanidade – até aqui. Que Utopia e Barbárie instaure uma produtiva crise em nossos corações e nos leve a fazer perguntas sobre nosso futuro histórico!
Cada vez que assisto a Utopia e Barbárie fico emocionada. De sua origem no Latim, emocionar-se quer dizer que ficamos movidos para fora de nós mesmos. Tomara que vocês se emocionem ao ver esse filme. Tomara que fiquem tocados a buscar caminhos para fora de si e na direção do outro, fraternalmente. Como diz o poeta Ferreira Gullar no documentário, uma vez que a vida é finita, é no outro que teremos continuidade. Salve, Silvio, seu filme inspira! Ecoam suas palavras: "Solta o coração e vai!".
Carla Siqueira
(Texto escrito para a revista de lançamento do filme Utopia e Barbárie de Silvio Tendler, que entra em cartaz no próximo dia 23 de abril. Para assistir o trailer, clique aqui.)
domingo, 18 de abril de 2010
Folhas Secas
Uma das músicas mais lindas do mundo, por uma das vozes mais fantásticas do universo...
Elis Regina cantando Folhas Secas, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.
:-)
sábado, 17 de abril de 2010
O mundo que venci deu-me um amor
O mundo que venci deu-me um amor
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes encouraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória...
Mário Faustino (1930-1962)
(comemorando a reedição de O homem e sua hora)
segunda-feira, 12 de abril de 2010
No peito, a manivela ferrugenta
que faz abrir a respiração
começou a emperrar
e o corpo aprendeu rapidamente:
o suor como se a roupa
fosse um antídoto.
O belo cavalo branco de cascos
impretéritos avançou
então
pelas vértebras
mas não impediu que a imagem
fosse real.
Cordas de piano
por onde trepam os assassinos
e onde por vezes
se enforcam
antes de alcançarem a janela,
o repto impune dos que dormem:
vela-me.
Vasco Gato, em Omertà.
Mais um poeta português descoberto no ótimo As folhas ardem.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
sábado, 3 de abril de 2010
Já que é Páscoa...
Trecho final do filme Easter Parade (1948), com Fred Astaire e Judy Garland, direção de Charles Walters e música de Irving Berlin.
:-)
Eu sou trezentos
Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pireneus! Ôh caiçaras!
Se um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo…
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo
Mário de Andrade
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