sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Antes que o homem faça, é necessário que sonhe
















"A convenção do calendário nos adverte de que demos mais uma volta em torno do sol, é costume fazer do ano a vir pequena e temporária utopia. Por mais pessoal que seja,  nos limites das próprias aspirações, sabemos que não a edificaremos sem a contribuição dos outros. Não há ser que possa viver absolutamente só. Para ganhar na loteria, esse sonho de alforria econômica e social, é preciso que outros apostem. É assim com tudo: o êxito das nossas empresas, a paz familiar, a alegria do reconhecimento alheio de nossas possíveis virtudes. E não é preciso falar nos sentimentos da amizade e do amor. Indivíduo é aquele que não pode ser dividido por outro, mas que pode e deve dividir-se, para multiplicar-se em seus atos e em seus
sentimentos. Ele se faz a partir dos outros, e sua inteligência, quaisquer que sejam os limites dos próprios atos e do conhecimento adquirido, irá influir sobre as pessoas com as quais conviva ou possa comunicar-se.

É raro pensar nessas coisas óbvias, exatamente porque são tão óbvias.

De forma quase natural aproveitamos estes dias de renovação da esperança para a confraternização. É o retorno à utopia maior, a da paz.

Quando passarem estas horas, voltaremos à guerra de todos contra todos, ou de quase todos contra todos, porque felizmente há quem resista, quem mantenha na alma a chama da solidariedade.

(...)

Mas as utopias são necessárias. Ao tentar realizá-las, as sociedades avançam. Assim foi possível abolir a escravidão, universalizar-se o ensino, melhorar o nível de vida e da saúde para grande parte da humanidade. Antes que o homem faça, é necessário que sonhe."


Mauro Santayana, em As convenções do calendário, publicado no Jornal do Brasil em 25 de dezembro de 2009.

Valeu, Silvio!

Nenhum comentário:

Postar um comentário